quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O sofá de outrora


Tem horas que a única coisa que desejo é voltar pra sala da minha primeira casa. A casa que eu ''nasci''. Na verdade, era um apartamento: dois quartos, uma suíte, um banheiro, uma sala razoavelmente espaçosa, cozinha, área (aonde eu escrevia e brincava de dar aula em um quadro negro que era verde!rs) e dependências da "secretária'' Marilza, a quem eu carinhosamente chamava de Isa! Tudo aquilo me enche de saudade. O cheiro da comida de sexta-feira... toda sexta se fazia peixe frito, purê de batatas, arroz e feijão. Simples, né? Mas pra mim era a melhor comida do universo! E o meu quarto? Rosa e branco. Era recheado de Barbies que usavam polainas rosa shock, estilo anos 80. O banheiro que eu dividia com a minha irmã tinha uma pequena janela que dava vista para a praia. Eu costumava subir na privada pra ficar olhando o mar e o Morro do Pão de Açúcar. Mas o melhor momento na minha antiga casa era quando eu ficava sozinha na sala. Me recordo de sempre me colocar de cabeça pra baixo. Deitava as pernas no encosto do sofá e deixava a cabeça pendurada, quase tocando o chão, e ficava um tempão lá, olhando pra cima. Eu era capaz de ficar naquela posição por um bom tempo. Ficava tudo tão branco, vazio, em paz. Faz muito tempo que não olho pra cima através daquela perspectiva. Creio que se eu fizer isso agora tudo vai ficar menor, sem sentido. E eu que esperei tanto pra crescer, achando que iria me sentir maior, mais presença no mundo! Só que quando a gente cresce as dimensões diminuem. E aquela sensação de grandeza do espaço se evapora. Aquela configuração leve que criei para olhar o mundo se tornou difícil de alcançar hoje em dia. Ainda busco a sensação de outrora que um singelo sofá e um teto branco me ofereciam quando eu ficava de cabeça pra baixo.

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