segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Breves encontros

Há uns três anos atrás fiz amizade com a Paula. A conheci através da Ana, uma grande amiga. Eu e Ana fomos em um Cafe e lá estava a Paula. Uma moça nova, uns 36 anos, doce, gentil e de voz mansa. Estava acima do peso, os cabelos em corte chanel, roupas simples e coloridas e usava óculos grandes. Pouca vaidade, tanto que ela aparentava ter mais idade. Mas era possível ver naquele olhar, mesmo que sutilmente, uma mulher bonita escondida. Ficamos no Cafe jogando conversa fora naquela tarde, em meio à leveza de histórias divertidas. Depois de algumas horas, nosso papo foi interrompido por Paula que precisava sair para uma consulta médica. Nos despedimos e ela seguiu para seu compromisso. À sós com Ana, fui surpreendida com a notícia de que Paula estava doente. Tinha câncer. Meu coração se partiu. Custei a juntas os cacos. Uma moça tão nova, como eu e minhas amigas! Passei a encontrar a Paula por vezes para um cafe, sempre com a Ana. Outras vezes a encontrava sozinha, pois morávamos próximas. Com o tempo, a Paula começou a usar peruca, para suprir a falta dos belos cabelos lisos e brilhosos que ela tinha. E ela seguia com os tratamentos. Seu peso aumentou relativamente e eu creio que tenha sido pela ansiedade à doença. Não devia ser fácil, embora ela estivesse sempre sorrindo. Até que um dia ela me disse que os exames deram positivos com relação à melhora! Fiquei feliz. Seus cabelos voltaram a crescer aos poucos e isso foi bacana de se ver! O tempo passou e um dia a encontrei na rua, rapidamente. Perguntei sobre a vida e ela disse que "tava tudo bem". Paula mandou um beijo para a minha filha, demos um abraço carinhoso e nos desejamos tudo de bom uma para a outra. E ficamos um bom tempo sem nos ver, mesmo morando perto.
Recentemente, vi que era aniversário dela no Facebook e deixei uma mensagem carinhosa de parabéns! Após alguns dias, recebi a notícia da mãe dela pelo Facebook, agradecendo a felicitação, mas dizendo com pesar que a Paula havia nos deixado há cinco meses. Meu coração se partiu mais uma vez. E dessa vez, os cacos se espalharam com tanta força que foi ainda mais difícil juntá-los. Ela simplesmente se foi. Na mesma hora entrei em contato com a Ana, que não me avisou para me poupar do sofrimento. Senti um carinho enorme com esse cuidado. Mas como eu mesma poderia me poupar da existência da morte? A perda é algo que não nos permite um preparo, por mais que alguma doença sugira isso, como foi o caso da Paula. Sempre há uma luz que nos faz enfrentar o medo da morte. E quando ela chega, nos damos conta de como somos grãos de areia diante desse universo. É difícil viver sabendo que ela está sempre por aí, rondando, mesmo conscientes de que a única certeza dessa vida é justamente a existência da morte. Para algumas culturas e religiões, a morte significa uma libertação. Para outras, representa o fim. Em alguns casos traduz a existência de uma nova vida. São inúmeras crenças para lidar com tamanho mistério. A Ana me disse que a Paula se foi de maneira rápida e em paz, o que me acalenta. Me encolho, medito e agradeço à vida por seus encontros acolhedores, mesmo que breves, como um suspiro.

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