sábado, 4 de outubro de 2014

Maurício de Souza em carne, osso e sobrancelha

Há uns três anos atrás fui à Bienal do Livro com a minha filha. Foi a primeira vez dela em um grande evento de Literatura. Meus pais, por diversas vezes, me levaram em muitas ''Bienais'' aqui no Rio e poder levar a minha Gabriela se transformou na realização de um sonho. Pra quem não sabe, a Bienal aqui no Rio fica no Riocentro, sede dos principais eventos nacionais e internacionais do Brasil e a mais ou menos 42,3km do meu Município, o que significa: longe. Chegar até o Riocentro, sentindo muito calor porque o ar do meu carro estava com defeito e levando três crianças ansiosas, me fez entender o motivo pelo qual o meu pai reclamava tanto sobre visitar tal ''feira de livros''. E lá fomos nós... Eu, a Gab e minha amiga, Alexandra, com as duas filhas que regulavam em idade com a minha. Chegamos bem cedo porque o nosso objetivo, além de desfrutar o evento ao máximo, era pegar um autógrafo com o MAURÍCIO DE SOUZA. Ele, que fez parte da minha infância, da minha vida, e que agora é parte da infância da minha filha, através de suas histórias leves e genuínas conduzindo inúmeras gerações. Compramos nossos livros para serem autografados - eu comprei ''O Gênio e as Rosas'', edição especial que reúne 24 contos do amado Paulo Coelho com ilustrações bacanérrimas do Maurício de Souza; mistura mágica, pra não dizer sublime. Pegamos nossas senhas, super cedo, e ficamos sentadas com nossos livros, esperando AQUELE que conhecíamos apenas em desenhos e histórinhas recheadas de personagens infantis cheios de personalidade, que moravam no ''bairro do Limoeiro''. Enquanto esperávamos na fila, a Gabriela estava em êxtase e me disse:
''Mãe, vai ser o meu melhor dia! Estou muito nervosa! Tô tremendo...'' 
Eu me surpreendi e baixou a mãe insensível:
''Nervosa? Deixa de ser boba! Nervosa porque? Você vai pegar o seu livro dar para ele autografar, vai conversar com ele e vou tirar uma foto bem bonita sua e dele! Pare de bobeira. Que frescura!''
Após alguns minutos a fila cresceu e, finalmente, o Maurício DE SOUZA chegou... Senti que o meu coração começou a bater forte quando o vi pela primeira vez. Afinal de contas, era ele em carne, osso e sobrancelha. Éramos as primeiras da fila. A Alexandra e suas duas filhas estavam em nossa frente. Quando chegou a vez delas, comecei a tremer. Como pode? A minha filha podia se dar ao luxo de ficar nervosa. Tinha só 8 anos! Mas euzinha, adulta, mãe, 29 anos... Levaram a Alexandra e suas meninas para perto do nosso alvo e percebi que ela também estava diferente. Meio bobona, sabe? Começou a conversar com o Maurício:
''Oi, Maurício! Essa é a Carolina. Ela toca violino, sabia?"
Confesso que achei até normal o que ela falou, já que eu não estava raciocinando muito bem, sabendo que nós seríamos as próximas. Alexandra não se deu por satisfeita e ainda soltou a pérola:
''Essa é a minha mais velha, a Eduarda! Ela adora jogar volei, ganhou as olímpiadas da escola!''
O Maurício estava muito tranquilo e respondia com muita delicadeza e educação aos elogios constantes daquela mãe às suas filhas mas, pra mim, ela não estava em seu estado normal. 
O pior é que ela fazia aquilo render e não acabava nunca! Eu e a Gab estávamos loucas pra chegar a nossa vez. Até que nos chamaram e lá fomos nós. Eu ''empurrei'' a Gabriela e disse:
''Vai, filha! Pede o autógrafo pra ele.'' Algo bem óbvio. Meus primeiros sintomas bizarros.
A Gab sentou ao lado dele, calma e serena, com o seu livrinho. Enquanto isso, a mamãe aqui já saiu tirando altas fotos. Ele conversava com ela baixinho, sorrindo e ela respondia da mesma forma. Aquela ansiedade toda que ela trazia, havia sumido! Comecei a me emocionar com aquilo e fiquei ainda mais nervosa. Imagina: minha filha conversando com o cara que me inspirou a entrar no mundo da imaginação e da Literatura. Coisa linda de se ver! Até que chegou o MEU momento. Ele me chamou. Entreguei a câmera à Gab e fui. Nervosa. Sentei com o meu livro. Creio que, naquele momento, voltei a ser a menina que devorava as revistinhas da Turma da Mônica e descobria no mundo das letras um meio de entender a vida e as pessoas. O Maurício perguntou o meu nome. Respondi com dificuldade. Eu disse com muito esforço que lia suas histórinhas quando pequena. Então,  ele disse:
''Flavia, quer dizer que você gostava de ler minhas histórias quando criança?''
Foi quando percebi que a minha voz sumiu. Desapareceu. Simplesmente não saia. Ele me olhava esperando a resposta, enquanto pegava o meu livro para autografar. Meu cérebro  até funcionava, mas meu coração batia acelerado. Com muito custo consegui responder após sei lá quanto tempo:
''Si...sim...'' 
Ele autografou, me agradeceu e disse que se sentia feliz em poder fazer parte da minha infância. Tiramos a foto, fiz um agradecimento com a cabeça e saímos agarradas em nossas livros com a assinatura dele! A jornalista, curiosa e cheia de perguntas não estava ali. Não fui capaz de agir com imparcialidade diante de um dos meus maiores ídolos. E eu tinha tantas perguntas a fazer... E me vi cheia de lágrimas nos olhos. A Gab disse assustada:
''Mãe? Você está chorando??? Não acredito! Que frescura!''
Eu estava chorando e tremendo de emoção. Como diria a minha filha, esse foi o meu melhor dia. 


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